Deborah Lahm e Thelmo Fernandes em ‘Todo dia a mesma noite’ Netflix
‘Todo dia a mesma noite’, sobre o incêndio na Boate Kiss, é uma série ótima e muito difícil de ver
Por Patrícia Kogut
30/01/2023
“A Justiça brasileira foi desenhada pelo Kafka. O processo é a pena e a pena é o processo”, filosofa o advogado Bruno (Flávio Bauraqui) no último episódio de “Todo dia a mesma noite”. A série da Netflix com direção de Julia Rezende narra a terrível história do incêndio da Boate Kiss, que matou 242 pessoas em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em 2013. E trata da ação movida pelos familiares dessas vítimas contra os responsáveis. A referência é ao autor tcheco de “O processo”, cujo personagem central tem uma experiência jurídica absurda.
A série não é fácil de ver. Mas conta uma história real — ficcionalizada — e que completou dez anos ainda sem punição para os culpados.
O roteiro de Gustavo Lipsztein vai direto ao ponto, não se vale de truques e é muito eficiente. A trama conta tudo com começo meio e fim, sem aquele vício de recuar na cronologia. Julia Rezende é uma diretora de primeira linha. E o elenco impressiona como um todo. Destaco aqui Debora Lamm, Thelmo Fernandes, Bel Kowarick, Bianca Byington, Paulo Gorgulho, Leonardo Medeiros, Pablo Sanábio, Miguel Roncato, Flávio Bauraqui, Laila Zaid e Marilene Leal.
Trata-se de uma produção de alta qualidade, sóbria, que escapa de todas as possíveis armadilhas do sensacionalismo. E nem precisava: prepare os lenços, é tudo de arrasar.